Giovane Gigio, Ronaldo Redman e Simão Pessoa
Em
1974, o Murrinhas do Egito acabou entre os 64 melhores times do 2º Peladão e
conquistamos dois prêmios: Silene, minha irmã, foi a primeira Rainha do
certame, e Áureo Petita, o “Craque do Ano”.
Com
apenas 20 anos, Áureo recusou vários convites para se profissionalizar e
disputar o campeonato amazonense de futebol.
Continuou
defendendo vários times no Peladão e participando do campeonato amador pela
equipe do Náutico.
Em
1981, o Peñarol, de Itacoatiara, que desde o ano anterior disputava o
campeonato profissional amazonense, recrutou alguns jogadores em Manaus para
reforçar sua equipe.
Entre
os convocados, foram alguns craques amadores do Murrinhas do Egito, da
Cachoeirinha, e do Canarinho, de Petrópolis: Lúcio Preto, Nego Irineu, Tobias,
Paulo César e Áureo Petita.
Jogando
de meia-esquerda, Áureo logo conquistou a torcida do município. Seu
entendimento com o centroavante Índio lembrava a dupla Pelé-Coutinho.
O
Peñarol estava fazendo uma das melhores campanhas da história, quando os
dirigentes dos times da capital resolveram melar a competição.
O
Fast Clube, que havia perdido para o Peñarol, descobriu que Áureo ainda era
jogador do Náutico e que, por ser amador, não poderia disputar o campeonato de
profissionais.
Os
pontos perdidos em campo foram reconquistados no Tribunal de Justiça Desportiva
(TJD) e Áureo pegou 60 dias de suspensão.
Os
torcedores do Peñarol ficaram revoltados.
Derrotado
pelo Nacional, o Peñarol teria de vencer o Rio Negro, em Itacoatiara, ou seria
eliminado do quadrangular do 1.º turno e o Fast, que estava fora, entraria por
meio do “tapetão”.
A
Velha Serpa se preparou para a guerra.
Chefe
da torcida do Rio Negro, o atual chefe de Segurança da CMM, Enédio Negreiros,
procurou o motorista Ronaldo Redman.
–
Ô, negão, tu não quer ganhar um troco?
–
Pra quê? – os olhos de Redman brilharam.
–
Pra dirigir o ônibus do Rio Negro até Itacoatiara!
Depois
de pensar um pouco, Redman aceitou a missão, cobrou um determinado valor pela
tarefa, Enédio topou e ficou de lhe passar a grana quando a delegação chegasse
na Velha Serpa.
O
ônibus era uma “lata velha”, comprido que nem vara de bater pecado, com câmbio
do tipo “alavanca suporta-sovaco”. Não desenvolvia mais de 60 km/h .
Em
uma manhã de domingo, no horário combinado, Redman assumiu o cockpit da “lata
velha”.
Começaram
a entrar no ônibus os jogadores, a comissão técnica, os dirigentes e nada do
Enédio. Pelo retrovisor, Redman tentava localizar o amigo. Nada.
Lá
atrás, em um dos bancos, estava um galo gigantesco, de mais de dois metros de
altura, usando o uniforme do clube.
Redman
ficou apreensivo. Sem Enédio na parada, de quem ele iria cobrar pela viagem, já
que não conhecia ninguém? Pensou em desistir.
Depois,
achou melhor fazer o serviço, e, quando retornasse a Manaus, se acertaria com o
amigo.
Os
jogadores começaram a vestir o uniforme dentro do ônibus e Redman meteu o pé na
estrada.
Chegaram
ao estádio Floro de Mendonça dez minutos antes da partida começar.
Uma
multidão de torcedores do Peñarol aguardava pelo time inimigo, do lado de fora
do estádio, formando um imenso corredor polonês na entrada do túnel destinado
aos visitantes.
Os
jogadores desceram do ônibus correndo e, enquanto atravessavam o corredor
polonês, iam recebendo pescoções, chutes na bunda, cusparadas, dedadas e
xingamentos desmoralizantes.
O
gigantesco galo carijó, andando com as pernas meio abertas, por causa dos
esporões de quase 20
centímetros , o que lhe dava um estranho gingado de urubu
malandro, foi o último a sair do ônibus.
Quando
ele colocou o bico pra fora da porta, um torcedor adversário deu-lhe um murro
no meio da fuça. Foi um soco tão violento que esbagaçou o bico do galináceo.
O
gigantesco galo carijó caiu de cu-trancado na escada do ônibus e depois embicou
no chão. Alguém gritou:
–
Pega o galo e pela e joga na panela...
A
multidão enfurecida avançou em cima do infeliz. Em vez de entrar no ônibus e
trancar a porta para se proteger, o galo carijó, ainda grogue, se levantou do
chão e desembestou a correr em direção à saída da cidade, sendo perseguido por
mais de cem torcedores armados de mangarás de banana e galhos de cuieira.
No
estádio, a partida era interrompida a cada cinco minutos por causa de invasão
de campo.
Os
torcedores do Peñarol quebraram mais de 200 ovos podres na cabeça dos jogadores
rionegrinos e infernizaram a vida do goleiro com morteiros de três tiros.
O
Peñarol ganhou de 2 a 1, gols do centroavante Índio e do ponta direita Erasmo
para o time da casa, e Raulino para os visitantes.
No
retorno do time, um dos dirigentes estranhou a ausência do mascote do clube,
que sequer havia entrado em campo. Redman relatou o ocorrido. Pediram que ele
metesse o pé na estrada, para resgatar o infeliz.
O
galo carijó foi encontrado correndo na rodovia AM-010, dessa vez sendo
perseguido por cachorros e crianças armadas de baladeiras, já cruzando o
município do Rio Preto da Eva.
Pelo
buraco na cara do galináceo, onde antes havia um bico, Redman reconheceu Enédio
Negreiros, pálido que nem um defunto e a ponto de colocar os bofes pela boca.
O
motorista ficou com tanta pena do galo maratonista que parou o ônibus, embarcou
o galináceo, continuou dirigindo a “lata velha” até Manaus e não cobrou um
centavo pelo serviço. Enédio lhe deve essa cortesia até hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário