No
tempo em que os bichos falavam (“e aí, bicho, tudo bem?”), só havia um tipo de
pederasta: o que liberava o rodiscley. Esse negócio de bissexual, übersexual e
pansexual, ou seja, de neguinho que corta dos dois lados feito uma gilete, é um
modismo recente, coisa de uns 20 anos pra cá, já no período pós-aids.
Naquela
época, a moçada da Cachoeirinha enrabava os pederastas simplesmente em troca do
vil metal, que servia para garantir o cinema, a merenda e o pagamento das
quengas. Não havia laços de ternura. Era um ato físico, quase mecânico, do tipo
“caixinha, obrigado!”.
No
panteão dos super-heróis da nossa adolescência, Frank Moura, o carismático
“Chico Porrada”, encarnou como ninguém o papel do diabólico Besouro Verde: ele simplesmente
passou o rodo em todo pederasta que circulou pelo bairro.
Eclético,
corajoso e decidido, o nosso pau-pra-toda-obra enrabou colunistas sociais (Gil
Barbosa, Little Box, Nogar), religiosos (Padre Nonato, Frei Camilo, Nazareno),
estilistas estilosos (Roberto Carreira, Bernardo, Albuquerque), ícones
televisivos (Achiles Barros, Licinho Lamê, Naldo Bocão), qualiras borrachos
ainda cheirando a leite (Adrianinho, Cezinha, Arturzinho), qualiras veteranos
já quase aposentados (Pelé, Astrid, Domingos), qualiras com jeito de mulher (Marcelly,
Chiquinha, Preta), qualiras com jeito de homem (Tapioca, Dionisio, Maceta), qualiras
subcelebridades (Vanusa, Kika, Serginho Xuxa), qualiras quituteiros (Bolota,
Navarro, Paulo Marinho), qualiras hortifrutigranjeiros (Arroz, Manteiga,
Coentrão), qualiras mamíferos (Baleia, Porquinha, Mococa), qualiras répteis (Matá-matá,
Dilson Cobra D’água, Lu Camaleão), e até qualiras insetos (Barata, Claudio
Tanajura, Zé Pulga). O cara era desassombrado.
Em
certa ocasião, Frank Moura estava executando a Chiquinha, em pé, numa
construção abandonada, quando, subitamente, o baitola puxou a cabeça do Besouro
Verde por cima de seu ombro e enfiou-lhe um palmo de língua no ouvido. Chico
Porrada quase saiu do sério.
Dando
os trâmites por findos, Chiquinha fez uma observação:
– Olha,
Frank Moura, até que você faz um teretetê legal, mas da próxima vez, meu filho,
passe pelo menos um cotonete no ouvido porque ele estava com cera até o tucupi...
Chico
Porrada quase quebrou a cara do infeliz.
Outra
vez, Luiz Lobão, Chico Porrada, Airton Caju e Marcos Pombão estavam fazendo
hora no canto da rua, quando o Nego Mitu começou a descer a ladeira.
– E
aí, meu querido, vamos pro rock? – perguntou Luiz Lobão.
– Só
se for com o Frank Moura! – devolveu Nego Mitu, se requebrando mais do que de
costume.
Frank
Moura chiou:
– Esse
aí eu não como mais não porque o cu dele fede pra caralho...
– Qualé,
meu compadre? E a nossa merenda?... – insistiu Luiz Lobão.
Pressionado
pelos demais vagabundos, Chico Porrada foi para o sacrifício e rebocou o viado
para baixo de um pé de castanhola. Os outros três resolveram “brechar”. A cena
era hilária.
Chico
Porrada, em pé, com a mão esquerda segurava firmemente o ombro do Nego Mitu,
com a mão direita tapava o nariz e com os quadris dava fortes estocadas no rabo
do sujeito, enquanto recitava uma ladainha:
– Teu
cu fede mas é gostoso pra caralho! Teu cu fede mas é gostoso pra caralho!
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