segunda-feira, 1 de junho de 2015

234 CHICO PORRADA, O MAGNÍFICO


No tempo em que os bichos falavam (“e aí, bicho, tudo bem?”), só havia um tipo de pederasta: o que liberava o rodiscley. Esse negócio de bissexual, übersexual e pansexual, ou seja, de neguinho que corta dos dois lados feito uma gilete, é um modismo recente, coisa de uns 20 anos pra cá, já no período pós-aids.

Naquela época, a moçada da Cachoeirinha enrabava os pederastas simplesmente em troca do vil metal, que servia para garantir o cinema, a merenda e o pagamento das quengas. Não havia laços de ternura. Era um ato físico, quase mecânico, do tipo “caixinha, obrigado!”.

No panteão dos super-heróis da nossa adolescência, Frank Moura, o carismático “Chico Porrada”, encarnou como ninguém o papel do diabólico Besouro Verde: ele simplesmente passou o rodo em todo pederasta que circulou pelo bairro.

Eclético, corajoso e decidido, o nosso pau-pra-toda-obra enrabou colunistas sociais (Gil Barbosa, Little Box, Nogar), religiosos (Padre Nonato, Frei Camilo, Nazareno), estilistas estilosos (Roberto Carreira, Bernardo, Albuquerque), ícones televisivos (Achiles Barros, Licinho Lamê, Naldo Bocão), qualiras borrachos ainda cheirando a leite (Adrianinho, Cezinha, Arturzinho), qualiras veteranos já quase aposentados (Pelé, Astrid, Domingos), qualiras com jeito de mulher (Marcelly, Chiquinha, Preta), qualiras com jeito de homem (Tapioca, Dionisio, Maceta), qualiras subcelebridades (Vanusa, Kika, Serginho Xuxa), qualiras quituteiros (Bolota, Navarro, Paulo Marinho), qualiras hortifrutigranjeiros (Arroz, Manteiga, Coentrão), qualiras mamíferos (Baleia, Porquinha, Mococa), qualiras répteis (Matá-matá, Dilson Cobra D’água, Lu Camaleão), e até qualiras insetos (Barata, Claudio Tanajura, Zé Pulga). O cara era desassombrado.

Em certa ocasião, Frank Moura estava executando a Chiquinha, em pé, numa construção abandonada, quando, subitamente, o baitola puxou a cabeça do Besouro Verde por cima de seu ombro e enfiou-lhe um palmo de língua no ouvido. Chico Porrada quase saiu do sério.

Dando os trâmites por findos, Chiquinha fez uma observação:

– Olha, Frank Moura, até que você faz um teretetê legal, mas da próxima vez, meu filho, passe pelo menos um cotonete no ouvido porque ele estava com cera até o tucupi...

Chico Porrada quase quebrou a cara do infeliz.

Outra vez, Luiz Lobão, Chico Porrada, Airton Caju e Marcos Pombão estavam fazendo hora no canto da rua, quando o Nego Mitu começou a descer a ladeira.
– E aí, meu querido, vamos pro rock? – perguntou Luiz Lobão.

– Só se for com o Frank Moura! – devolveu Nego Mitu, se requebrando mais do que de costume.
Frank Moura chiou:

– Esse aí eu não como mais não porque o cu dele fede pra caralho...

– Qualé, meu compadre? E a nossa merenda?... – insistiu Luiz Lobão.

Pressionado pelos demais vagabundos, Chico Porrada foi para o sacrifício e rebocou o viado para baixo de um pé de castanhola. Os outros três resolveram “brechar”. A cena era hilária.

Chico Porrada, em pé, com a mão esquerda segurava firmemente o ombro do Nego Mitu, com a mão direita tapava o nariz e com os quadris dava fortes estocadas no rabo do sujeito, enquanto recitava uma ladainha:

– Teu cu fede mas é gostoso pra caralho! Teu cu fede mas é gostoso pra caralho!

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