segunda-feira, 1 de junho de 2015

209 A MALDIÇÃO DE MONTEZUMA


Simão Pessoa, Marcus Vinicius e Mário Adolfo Filho

Em meados dos anos 90, Mário Adolfo e Maria Teresa levaram os dois filhos (Mário Adolfo Filho e Marcus Vinicius) para conhecerem o Disney World, na Flórida. Depois de uma semana se divertindo nos brinquedos do parque temático, resolveram ir às compras no Aventura Mall, um dos shoppings mais completos da região de Miami, com 240 lojas. 

Todas as grandes lojas de departamentos americanas estão ali, caso de Sears (barata), Macy’s (média) e Nordstrom (cara), e das badaladas JCPenney, Bloomingdale’s, Abercrombie & Fitch, Ann Taylor, Apple, Banana Republic, Coach, The Disney Store, Guess, LaCoste, Tumi e Victoria’s Secret.

O shopping também possui vários restaurantes e lanchonetes tradicionais como o The Cheesecake Factory, Johnny Rockets, OCean Prime, Paul Maison de Qualite 1889, Rosalia’s, Sushi Siam, Charley’s Grilled Subs, Chicken Kitchen, Five Guys Burgers and Fries, Mandarin Express, Ruby Thai e o Tony Roma Express. 

Na hora do almoço, enquanto Teka e as crianças optaram pelo tradicional filé com fritas do Charley’s, o impetuoso Mário Adolfo resolveu encarar a apimentada culinária mexicana servida no Surf Road Taco.

Pra quem não sabe, o taco é o principal prato mexicano. Ele consiste de uma tortilha recheada com carne, pimenta, milho, tomate, cebola e guacamole (abacate). A massa do recheio costuma ser crocante e o taco, depois de frito ou assado, tem a aparência de um prosaico rissole. Mário Adolfo caprichou no molho de pimenta Habanero, a mais braba das pimentas mexicanas, e detonou dois tacos em menos de cinco minutos.

Na hora em que se dirigiu ao caixa para pagar a conta, seu estômago começou a acusar o golpe. A maldição de Montezuma havia se abatido sobre o jornalista.

Suando frio, tomado por cólicas indescritíveis e fazendo força para não defecar na calça, Mário Adolfo gastou seu portunhol com meia dúzia de transeuntes até conseguir descobrir com uma vendedora cubana onde ficavam os sanitários do mall. Eles estavam localizados no final de um gigantesco corredor de quase 100 metros.

Mário Adolfo se dirigiu para lá, caminhando lentamente, enquanto um barulho ensurdecedor saía de seus intestinos. Qualquer movimento brusco e os tacos liquefeitos desceriam inapelavelmente pelas suas pernas.

Depois de caminhar uns dez minutos que pareceram um século, Mário Adolfo entrou no reluzente sanitário masculino, se sentou no primeiro vaso disponível, a uns cinco metros da entrada, e deixou a natureza seguir seu curso. Os dois tacos haviam se transformado em uma copiosa diarreia de chicote. Um fedor de rato morto envolveu o ambiente como uma mortalha.

Do seu posto de observação privilegiado, o jornalista ouvia passos em direção à entrada do sanitário masculino. De repente, os passos silenciavam como se o sujeito tivesse parado na porta. Então, o silêncio era quebrado por imprecações furiosas em diversos idiomas:

– Oh my God!

– Shit!

– Carajo!

– Disgusting!

– Banzaiiiiiii!

– Cáspite!

– Damned!

– Nojeeento!

Evidentemente, ninguém conseguia atravessar o muro invisível erigido pela fedentina.

Preocupado com a hipótese de alguém mais desassombrado entrar no sanitário e depois se abaixar para olhar por baixo da parte inferior da porta de seu esconderijo, Mário Adolfo descalçou o tênis. Ele não queria ser reconhecido como o autor daquela calamidade pública.

Depois de uns dez minutos de agonia, Mário Adolfo bateu em retirada apressadamente, completamente descalço, com o par de tênis escondido embaixo da camisa. No meio do caminho, cruzou com uma equipe de bombeiros que se dirigia ao local para tentar encontrar o rato morto, seguido por uma multidão de sujeitos furiosos reclamando da fedentina em vários idiomas.


Vendo Mário Adolfo andando descalço pelos corredores daquele mall luxuoso como se fosse um legítimo índio mura, Teresa e os meninos não entenderam a motivação daquela excentricidade bizarra, mas também não cobraram explicações. 
Eles só foram saber do ocorrido depois que chegaram ao hotel. Quase morreram de rir.

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