terça-feira, 2 de junho de 2015

199 O CAPITÃO DE FRAGATA


Marcelo, Pai Simão, Dulce e Frank Jr.

Agosto de 1995. Com viagem marcada pra São Paulo, eu estava me preparando para ir ao aeroporto quando recebi um telefonema. Do outro lado da linha, meu filho Marcelo, de 18 anos, nervosíssimo, quase chorando:

– Pai, bati um carro por trás aqui perto do Colégio Militar e o dono do carro está ameaçando me prender porque não tenho carteira...

Eu expliquei que estava de saída para o aeroporto, mas pedi pra ele ficar calmo que iria falar com Pai Simão e logo tudo seria resolvido. Na mesma hora, telefonei para o velho, contei a situação e expliquei o que devia se feito:

– Negócio seguinte, papai: eu não quero confusão nenhuma porque o Marcelo está totalmente errado! O senhor vai lá, acerta quanto é o conserto do carro do sujeito e fala pra ele que assim que eu voltar de viagem, daqui a uns três dias, eu pago o prejuízo. Pode dar meu endereço e os meus telefones, tanto o de casa quanto o lá da Philco.

Pai Simão foi resolver a encrenca.

Quando voltei de São Paulo procurei pelo Marcelo para saber o desfecho do caso e pagar pelo prejuízo do sujeito.

– Pô, pai o vovô é muito doido! – disse Marcelo, rindo. – Ele chegou todo de branco, da cabeça aos pés. Aí, os caras que estavam no local do acidente pensaram logo que era algum capitão de fragata da Marinha de Guerra. Além disso, ele vinha espumando de raiva. Se um marinheiro puto já mete medo, pense num capitão de fragata! O vovô foi logo peitando o dono do carro: ‘Seu patife irresponsável, como é que você dá uma fechada desse jeito no meu neto e nem usou o pisca-alerta? Você é maluco, porra, você é maluco? Me dá logo a merda dos documentos do teu carro, que eu vou mandar guinchar agora mesmo pra você aprender a dirigir com responsabilidade’. O cara só faltou fazer cocô nas calças. O vovô continuou no mesmo tom, mais brabo do que siri em lata: ‘Marcelo, tira o teu carro daqui e vai embora, que eu só saio daqui quando a polícia chegar e levar esse cabra preso’. Cada vez mais encagaçado, o sujeito se desculpou, disse que era uma batidinha de nada, que o vovô não se preocupasse, que estava tudo bem, não precisava chamar a perícia nem nada. Na primeira oportunidade, ele entrou no carro e foi embora. Estava mais branco do que uma vela...

Resultado: não paguei um tostão pelo conserto do carro do cidadão, mesmo sabendo que toda batida por trás é indesculpável, ainda mais quando o causador do acidente não possui carteira de habilitação. Coisas do Pai Simão.

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