segunda-feira, 1 de junho de 2015

222 MATANÇA DE BOI


Junho de 1981. Em busca do tricampeonato na categoria “Especial”, o bumbá Corre Campo está fazendo uma apresentação de encher os olhos na Bola da Suframa. O que ninguém sabe é que um dos vaqueiros contrabandeou para o “miolo” Jaburu um cantil de ciclista cheio de cachaça e ele, embaixo do boi, está enchendo a cara sem parar.

Chega a hora da matança. Pai Francisco dá um tiro de espingarda, o bumbá se treme todo e desaba espalhafatosamente no chão, onde permanece completamente imóvel.

O auto do boi continua. O Amo chama o Pajé dos índios para ressuscitar o boi. O velho xamã rodopia, agita chocalhos e maracas, pula, grita, urra, berra, faz a dança da chuva, a dança da guariba, a dança do papagaio verde, a dança do caxinguelê, mas não consegue ressuscitar o animal. Ele é expulso do local aos empurrões.

O Chefe dos Vaqueiros traz o Dr. Cachaça. Ela faz meia dúzia de presepadas: imita Charles Chaplin, faz um número de sapateado, dança a balalaica, tira coelhos da cartola, transforma uma bengala em buquê de flores, derrama álcool no chão e toca fogo, chora, xinga, berra, urra, mas o boi continua morto. Ele é expulso pelos vaqueiros com chutes na bunda.

O Amo convoca o Dr. Relâmpago. Ele também faz meia dúzia de presepadas: cospe fogo, joga dezenas de “bombinhas” e “peido-de-velha” perto do boi, invoca raios e tempestades, grita, urra, xinga, mas o boi continua morto. Ele é expulso pelos vaqueiros na base do pescoção.

O Chefe dos Vaqueiros convoca o Dr. Vida. Ele enfia uma espécie de capim santo na boca do boi e avisa ao Amo que agora o animal voltou do mundo dos mortos.

O Amo começa a puxar a toada de “ressurreição” do boi:

– Urrou, urrou, / Urrou, tornou a urrar/ Urrou meu boi na campina / Cantou sereia no mar! / Levanta meu boi querido / E vem pro pasto vadiar!

O boi, entretanto, não dava nenhum sinal de vida. O Amo começou a ficar nervoso. Cantou a toada uma, duas, três vezes. Nada. Os vaqueiros se aproximaram e levantaram a armação do boi.

O “miolo” Jaburu estava dormindo que roncava, depois de ter secado o cantil de manguaça. O “miolo” foi levantado pelos braços e pernas e arremessado para fora do tablado. Uma queda de quase dois metros de altura.

Na mesma hora, Ferrolho assumiu o papel de “miolo” e o bumbá Corre Campo ressuscitou. Os jurados, entretanto, não gostaram de ver aquela marmotice acontecendo exatamente no ápice do auto do boi e todos eles deram a nota mínima para a apresentação do boi da Cachoeirinha. 

Resultado: Gitano em 1º lugar, Tira Prosa em 2º lugar e Corre Campo com a humilhante lanterninha da competição.

Faltou muito pouco para o manguaceiro Jaburu não ser estripado pelos brincantes do Corre Campo.

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