Junho
de 1981. Em busca do tricampeonato na categoria “Especial”, o bumbá Corre Campo
está fazendo uma apresentação de encher os olhos na Bola da Suframa. O que
ninguém sabe é que um dos vaqueiros contrabandeou para o “miolo” Jaburu um
cantil de ciclista cheio de cachaça e ele, embaixo do boi, está enchendo a cara
sem parar.
Chega
a hora da matança. Pai Francisco dá um tiro de espingarda, o bumbá se treme
todo e desaba espalhafatosamente no chão, onde permanece completamente imóvel.
O
auto do boi continua. O Amo chama o Pajé dos índios para ressuscitar o boi. O
velho xamã rodopia, agita chocalhos e maracas, pula, grita, urra, berra, faz a
dança da chuva, a dança da guariba, a dança do papagaio verde, a dança do
caxinguelê, mas não consegue ressuscitar o animal. Ele é expulso do local aos
empurrões.
O
Chefe dos Vaqueiros traz o Dr. Cachaça. Ela faz meia dúzia de presepadas: imita
Charles Chaplin, faz um número de sapateado, dança a balalaica, tira coelhos da
cartola, transforma uma bengala em buquê de flores, derrama álcool no chão e
toca fogo, chora, xinga, berra, urra, mas o boi continua morto. Ele é expulso
pelos vaqueiros com chutes na bunda.
O
Amo convoca o Dr. Relâmpago. Ele também faz meia dúzia de presepadas: cospe
fogo, joga dezenas de “bombinhas” e “peido-de-velha” perto do boi, invoca raios
e tempestades, grita, urra, xinga, mas o boi continua morto. Ele é expulso
pelos vaqueiros na base do pescoção.
O
Chefe dos Vaqueiros convoca o Dr. Vida. Ele enfia uma espécie de capim santo na
boca do boi e avisa ao Amo que agora o animal voltou do mundo dos mortos.
O
Amo começa a puxar a toada de “ressurreição” do boi:
–
Urrou, urrou, / Urrou, tornou a urrar/ Urrou meu boi na campina / Cantou sereia
no mar! / Levanta meu boi querido / E vem pro pasto vadiar!
O
boi, entretanto, não dava nenhum sinal de vida. O Amo começou a ficar nervoso.
Cantou a toada uma, duas, três vezes. Nada. Os vaqueiros se aproximaram e
levantaram a armação do boi.
O
“miolo” Jaburu estava dormindo que roncava, depois de ter secado o cantil de
manguaça. O “miolo” foi levantado pelos braços e pernas e arremessado para fora
do tablado. Uma queda de quase dois metros de altura.
Na
mesma hora, Ferrolho assumiu o papel de “miolo” e o bumbá Corre Campo
ressuscitou. Os jurados, entretanto, não gostaram de ver aquela marmotice
acontecendo exatamente no ápice do auto do boi e todos eles deram a nota mínima
para a apresentação do boi da Cachoeirinha.
Resultado: Gitano em 1º lugar, Tira
Prosa em 2º lugar e Corre Campo com a humilhante lanterninha da competição.
Faltou
muito pouco para o manguaceiro Jaburu não ser estripado pelos brincantes do
Corre Campo.
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