Em
1979, Antônio Arruda deixou o Amazonas e se mudou para Goiás, na companhia de dois
dos sete irmãos (Ademar, Mário e Leônidas já estavam morando lá, Terezinha
permaneceu em Manaus). Era um Estado distante e muito diferente de tudo que
vivera até então.
Em
Goiânia, procurou trabalho por muito tempo e, após vários empregos temporários
e um sem-número de biscates, decidiu fazer um curso para vigilante patrimonial.
Foram dois anos de curso intensivo, o que incluía treinamento de tiro e aulas
de defesa pessoal. No último dia do curso, ele foi submetido a uma prova
prática de tiro ao alvo, que definiria a emissão ou não do certificado de
vigilante.
Antônio
se preparou para a prova e recebeu as instruções. Seriam cinco tiros. Cada um
deles que acertasse no alvo valia dois pontos, totalizando dez. O candidato que
obtivesse seis pontos receberia o sonhado certificado de vigilante patrimonial
com direito ao porte de arma. O alvo era um saco de areia com o desenho de um
homem. Antônio mirou a arma no coração do sujeito e começou a atirar. Depois
dos cinco tiros, a examinadora se dirigiu ao alvo para verificar o resultado do
teste. Havia apenas um furo no saco. Incontinenti, ela decretou:
–
Antônio Arruda acertou apenas um tiro. Reprovado!
De
longe, com seu autêntico sotaque amazonense, Antônio retrucou:
– Rasgue
o saco, minha filha, rasgue o saco!
Quando
a moça, atendendo ao pedido do caboclo, fez o que ele solicitara, ficou
visivelmente surpresa. As cinco balas estavam dentro do saco e haviam adentrado
uma atrás da outra pelo mesmo orifício, bem no coração da gravura fixada no
alvo. Antônio Arruda foi aprovado com honra ao mérito, distinção e louvor.
Finalmente,
aos 45 anos, o caboclo nascido num longínquo seringal do Amazonas tinha uma
profissão decente. Do alto dos seus 1,52 cm de altura, se tornou um renomado
vigilante e rapidamente foi contratado para trabalhar numa concessionária da
Fiat.
Após
dois meses de trabalho, um fiscal da empresa que lhe contratara resolveu fazer
uma visita-surpresa de madrugada, querendo descobrir se o vigilante costumava
dormir no serviço. O fiscal chegou de fininho, mas rapidamente percebeu – da
pior maneira possível! – que o homem estava trabalhando sério: foi recebido com
um tiro no meio da perna, que lhe despedaçou a tíbia. Quase que o “enxerido”
teve a perna amputada.
Novamente
demitido, Antônio Arruda passou por muitos outros empregos, sempre trabalhando
duro, mas quase sempre exagerando nos seus dotes naturais ou os utilizando de
forma pouco ortodoxa. Ele vive ainda hoje em Goiânia, cidade onde recebeu o
apelido de “Baixinho”.
Aos
80 anos de idade, Antônio Arruda se gaba de já ter doado sangue 120 vezes e ter
tido 14 profissões, que variaram de peão de fazenda a dublê de advogado
criminalista. Um figuraço!
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