Novembro
de 1968. Na falta do que fazer, Pepéu pegou uma bola “casca de ovo” do tipo
médio, abriu um furo minúsculo em uma das imitações de gomo e encheu a bola de
pedra jacaré.
A bola “casca de ovo”, que recebera esse apelido por ser
extremamente leve, ficou pesando uns quinze quilos. Ele colocou a bola no meio
da Rua Parintins e ficou esperando um incauto passar.
Lá
pelas tantas, surge no começo da rua o peixeiro Bacaba, vindo de mais um
extenuante dia de batalha. Assim que Bacaba se aproxima da bola, Pepéu dá um
grito:
– Meu
amigo, dá pra você chutar essa bola de volta pra cá, pra gente continuar a
nossa pelada?...
Bacaba
tirou o tabuleiro da cabeça e colocou no chão. Descalçou a velha sandália
japonesa. Enrolou uma das pernas da calça até o meio da canela. Tomou uns seis
metros de distância (ele sabia que a bola “casca de ovo” era extremamente
leve), aí saiu correndo em direção à bola feito um alucinado, como se fosse bater um pênalti decisivo na Arena da Amazônia, e meteu o pé na
bola com vontade, de bico.
A
bola rolou um palmo. A unha do dedão do pé do Bacaba virou farelo. O próprio
dedão do pé quebrou na mesma hora.
Pulando
feito um saci e urrando de dor, Bacaba não economizou nos impropérios e
ameaças:
–
Eu vou te matar, seu filho da puta! Eu vou fazer picadinho de ti, seu corno! Eu
vou enfiar minha peixeira no teu bucho, seu viado!
Pepéu,
claro, saiu correndo e se trancou dentro de casa como se aquilo não fosse com
ele.
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