segunda-feira, 1 de junho de 2015

232 PEPÉU E BACABA


Novembro de 1968. Na falta do que fazer, Pepéu pegou uma bola “casca de ovo” do tipo médio, abriu um furo minúsculo em uma das imitações de gomo e encheu a bola de pedra jacaré. 

A bola “casca de ovo”, que recebera esse apelido por ser extremamente leve, ficou pesando uns quinze quilos. Ele colocou a bola no meio da Rua Parintins e ficou esperando um incauto passar.

Lá pelas tantas, surge no começo da rua o peixeiro Bacaba, vindo de mais um extenuante dia de batalha. Assim que Bacaba se aproxima da bola, Pepéu dá um grito:

– Meu amigo, dá pra você chutar essa bola de volta pra cá, pra gente continuar a nossa pelada?...

Bacaba tirou o tabuleiro da cabeça e colocou no chão. Descalçou a velha sandália japonesa. Enrolou uma das pernas da calça até o meio da canela. Tomou uns seis metros de distância (ele sabia que a bola “casca de ovo” era extremamente leve), aí saiu correndo em direção à bola feito um alucinado, como se fosse bater um pênalti decisivo na Arena da Amazônia, e meteu o pé na bola com vontade, de bico.

A bola rolou um palmo. A unha do dedão do pé do Bacaba virou farelo. O próprio dedão do pé quebrou na mesma hora.

Pulando feito um saci e urrando de dor, Bacaba não economizou nos impropérios e ameaças:
– Eu vou te matar, seu filho da puta! Eu vou fazer picadinho de ti, seu corno! Eu vou enfiar minha peixeira no teu bucho, seu viado!
Pepéu, claro, saiu correndo e se trancou dentro de casa como se aquilo não fosse com ele.

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