Ailton Santa Fé e Simão Pessoa
Setembro
de 1980. Todo final de semana, o estiloso Ailton Santa Fé aparecia no Top Bar
pilotando um carro diferente: Puma GTB, MP Lafer, Maverick V8, Opala Diplomata,
Miúra, Plymouth GTX, Lamborghini, Camaro, Mustang, Impala, Galaxie, o diabo a
quatro. Ou o sacana era milionário ou trabalhava em uma revenda de carros de
luxo.
O
detetive Luiz Lobão foi encarregado de descobrir a presepada.
Na
verdade, Santa Fé era dono de uma oficina mecânica na Praça 14, especializada
no conserto de carros “fora-de-série”.
Como
as ruas de Manaus nunca foram uma maravilha e os postos de gasolina nunca
prezaram pela honestidade, o que não faltavam eram clientes para o mecânico.
Uma
tarde de sábado, Luiz Lobão presenciou uma cena na oficina mecânica, que devia se
repetir toda semana.
Por
volta das cinco horas, um sujeito desceu do banco do carona de uma pick-up El
Camino e se dirigiu ao mecânico:
– Mano,
ontem eu deixei o meu Karmann-Ghia aqui com problema no carburador e gostaria
de saber se já está pronto?
– Porra,
compadre, o problema do teu carro é mais sério do que eu pensava. Nós já
arriamos o motor e estamos analisando peça por peça... – avisou Santa Fé,
enquanto limpava as mãos sujas de graxa em uma toalha imunda.
– Sério?
– indagou o sujeito. – Eu pensei que fosse só carburador sujo...
–
Eu também! – avisou o mecânico. – Mas a grampola da parafuseta derreteu por
superaquecimento e empenou a trava transversal do jiguelê de baixa...
O
sujeito ficou boquiaberto.
Santa
Fé mostrou o Karmann-Ghia suspenso em um macaco hidráulico e mostrou o motor da
máquina no chão.
Chutando
o motor levemente com a ponta do pé, o mecânico deu o cheque mate:
– Eu
estou trabalhando pessoalmente nessa onça, mas acho que só vai dar pra ficar
pronto na segunda-feira de manhã...
Sem
esconder o desapontamento, o sujeito embarcou de volta na pick-up El Camino e
foi embora.
O
mecânico foi mexer no carburador de um imponente Camaro LT.
Meia
hora depois, Santa Fé desceu o Karmann-Ghia do macaco hidráulico, apanhou o
motor no chão do jeito que estava, reposicionou o motor no lugar, apertou meia
dúzia de parafusos, entrou no carro e deu na chave. O motor roncava que era uma
beleza.
– Entra
aí, Luiz Lobão, que nós já temos um carango pra rodar no fim de semana... –
disparou o mecânico.
Luiz
Lobão embarcou no Karmann-Ghia e Ailton Santa Fé foi lhe deixar no Top Bar.
O
reluzente Karmann-Ghia amarelo se transformou no carro oficial do crioulo
estiloso durante aquele fim de semana.
Na
semana seguinte, ele pegaria outro carango ainda mais estribado do que aquele.
Bastava aplicar o mesmo golpe.
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