terça-feira, 2 de junho de 2015

188 GAROTO ESPERTO


Ailton Santa Fé e Simão Pessoa

Setembro de 1980. Todo final de semana, o estiloso Ailton Santa Fé aparecia no Top Bar pilotando um carro diferente: Puma GTB, MP Lafer, Maverick V8, Opala Diplomata, Miúra, Plymouth GTX, Lamborghini, Camaro, Mustang, Impala, Galaxie, o diabo a quatro. Ou o sacana era milionário ou trabalhava em uma revenda de carros de luxo.

O detetive Luiz Lobão foi encarregado de descobrir a presepada.

Na verdade, Santa Fé era dono de uma oficina mecânica na Praça 14, especializada no conserto de carros “fora-de-série”.

Como as ruas de Manaus nunca foram uma maravilha e os postos de gasolina nunca prezaram pela honestidade, o que não faltavam eram clientes para o mecânico.

Uma tarde de sábado, Luiz Lobão presenciou uma cena na oficina mecânica, que devia se repetir toda semana.

Por volta das cinco horas, um sujeito desceu do banco do carona de uma pick-up El Camino e se dirigiu ao mecânico:

– Mano, ontem eu deixei o meu Karmann-Ghia aqui com problema no carburador e gostaria de saber se já está pronto?

– Porra, compadre, o problema do teu carro é mais sério do que eu pensava. Nós já arriamos o motor e estamos analisando peça por peça... – avisou Santa Fé, enquanto limpava as mãos sujas de graxa em uma toalha imunda.

– Sério? – indagou o sujeito. – Eu pensei que fosse só carburador sujo...

– Eu também! – avisou o mecânico. – Mas a grampola da parafuseta derreteu por superaquecimento e empenou a trava transversal do jiguelê de baixa...

O sujeito ficou boquiaberto.

Santa Fé mostrou o Karmann-Ghia suspenso em um macaco hidráulico e mostrou o motor da máquina no chão.

Chutando o motor levemente com a ponta do pé, o mecânico deu o cheque mate:

– Eu estou trabalhando pessoalmente nessa onça, mas acho que só vai dar pra ficar pronto na segunda-feira de manhã...

Sem esconder o desapontamento, o sujeito embarcou de volta na pick-up El Camino e foi embora.

O mecânico foi mexer no carburador de um imponente Camaro LT.

Meia hora depois, Santa Fé desceu o Karmann-Ghia do macaco hidráulico, apanhou o motor no chão do jeito que estava, reposicionou o motor no lugar, apertou meia dúzia de parafusos, entrou no carro e deu na chave. O motor roncava que era uma beleza.

– Entra aí, Luiz Lobão, que nós já temos um carango pra rodar no fim de semana... – disparou o mecânico.

Luiz Lobão embarcou no Karmann-Ghia e Ailton Santa Fé foi lhe deixar no Top Bar.

O reluzente Karmann-Ghia amarelo se transformou no carro oficial do crioulo estiloso durante aquele fim de semana.

Na semana seguinte, ele pegaria outro carango ainda mais estribado do que aquele. Bastava aplicar o mesmo golpe.

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