Fevereiro
de 1986. Nascido em Codó (MA), mas morando no bairro de São Francisco, em
Manaus, desde os dois anos de idade, um raquítico moleque procura o técnico
Waldemar Bahia e pede para participar da “peneira” da escolinha de futsal do
ABC. O técnico não coloca muita fé naquele moleque mirradinho e cabeçudo, que
mal completara dez anos, mas, ainda assim, o coloca para jogar de pivô.
Em
menos de cinco minutos, o moleque mirradinho e cabeçudo já havia feito três
gols e mostrava um repertório de dribles de tirar o fôlego. Foi aprovado na
“peneira” e virou titular absoluto no time infantil do ABC. O moleque raquítico
se chamava Francinaldo Sena de Souza, mas Waldemar Bahia o apelidou de “França”
e foi com esse nome que ele entrou para a história do futebol brasileiro.
Com
uma paciência infinita, Waldemar Bahia ensinou o moleque a cabecear de olhos
abertos, treinar chutes com os dois pés, controlar a bola sem olhar pro chão e
nunca se descuidar do treinamento físico. Jogando de pivô, França foi campeão e
artilheiro do campeonato amazonense infantil e juvenil de futsal, sempre
jogando pelo ABC.
Ainda adolescente, decidiu deixar o futsal e se dedicar ao
futebol de campo, já que pretendia se profissionalizar como jogador de futebol.
Waldemar Bahia o aconselhou a procurar o Nacional, um dos poucos clubes locais
a investir nas divisões de base.
Em
1993, aos 17 anos, França foi fazer um teste no juvenil do Nacional e foi
reprovado. O rabugento técnico Leo Graúna o colocou pra jogar apenas cinco
minutos, na posição de meia-armador. “Eu nem toquei na bola e ele me tirou logo
de campo. Não deu pra entender nada!”, relembrou.
O jogador chegou a
confidenciar para Waldemar Bahia que não acreditava que tinha sido dispensado
do Nacional daquele jeito.
Por
sugestão de Bahia, ele resolveu voltar ao Nacional para fazer um novo teste.
Deu muita sorte. O rabugento Leo Graúna estava comandando o treinamento em
companhia de seu auxiliar Paulo Cézar Nogueira.
De repente, Graúna teve que
abandonar o treino para resolver um problema na sede do clube. Graças ao
auxiliar Paulo Cézar Nogueira, França entrou em campo na posição de
centroavante. “O nosso time ganhou de 6 a 1 e eu fiz todos os gols. Daí o
auxiliar falou para o Graúna o que eu havia feito em campo e ele me deixou
jogar no outro treino, onde fiz mais dois gols. Depois disso, não teve jeito:
ele teve que se render ao meu bom futebol e me inscreveu para disputar o
campeonato juvenil”, recorda França.
Em
1994, França foi campeão juvenil pelo Nacional disputando a final contra o Fast
Clube. O Nacional ganhou de 2 a 0, com dois gols de França.
Aliás, naquele ano,
ele foi o artilheiro absoluto do time e da competição: fez 28 gols dos 31
marcados pelo Nacional em todo o campeonato.
Foi logo convocado para participar
do time profissional do Leão Azul.
O cabuloso centroavante não chegou a ser
titular do Nacional: no começo de 1995, ele foi vendido para o XV de Jaú e, no
final do ano, foi revendido ao São Paulo Futebol Clube.
Em
1996, mesmo na reserva de Muller durante o campeonato paulista daquele ano,
França, que sempre entrava quase no fim do segundo tempo, marcou oito gols,
sendo que um deles foi um golaço de bicicleta contra o Rio Branco, em pleno
estádio do Pacaembu.
O moleque de 20 anos acabou conquistando a torcida tricolor.
Em 323 partidas pelo São Paulo, França fez 182 gols, marca que o registra como
o 4º maior artilheiro da história do clube e a 11ª melhor média de gols do
clube (0,56 gol por jogo).
Ele está atrás apenas de Serginho Chulapa (242),
Gino (232) e Teixeirinha (184), mas à frente de Mueller (158), Leônidas da
Silva (140), Raí (128) e Pedro Rocha (121).
Entre
outros títulos, França conquistou dois campeonatos paulistas, em 1998 e 2000 –
sendo artilheiro em ambas as competições, com 12 e 18 gols, respectivamente – e
um Torneio Rio-São Paulo, onde foi novamente o artilheiro, com seis gols.
Os
seus muitos gols, sua explosão em campo (era um atacante raçudo, que não tinha
medo de cara feia), sua habilidade com a bola nos pés e suas preciosas
assistências lhe renderam algumas convocações para a seleção brasileira, entre
os anos de 2000 e 2001.
Em um amistoso entre Brasil e Inglaterra, em maio de
2000, França fez o gol brasileiro no empate de 1 a 1, no histórico estádio de
Wembley.
Em
2002, França continuou marcando muitos gols pelo São Paulo, sendo mais uma vez
artilheiro do Torneio Rio-São Paulo com 19 gols (o São Paulo ficou com o
vice-campeonato).
No entanto, em uma partida contra o Corinthians pelas
semifinais da Copa do Brasil, França sofreu uma grave lesão, que fez com que
ele acabasse não sendo convocado para a Copa do Mundo de 2002, no Japão.
Depois
de um tratamento intensivo, França assinou contrato com o Bayer Leverkusen, da
Alemanha. O valor da sua transferência para o clube alemão foi de 12 milhões de
dólares.
Infelizmente, no Bayer Leverkusen, França não repetiu as atuações que
fazia pelo São Paulo, chegando a amargar o banco de reservas durante várias
partidas. Ele fez 71 jogos e apenas 21 gols no total, uma média baixíssima para
um centroavante respeitado no mundo inteiro.
Apesar de tudo, França foi
considerado um dos melhores assistentes da Bundesliga pela imprensa alemã,
tendo dado cerca de 37 passes que se converteram em gols.
Em
maio de 2005, França realizou sua última partida pelo clube alemão.
Em agosto
daquele ano, ele não renovou seu contrato com o Bayer Leverkusen e se
transferiu para o Kashiwa Reysol, do Japão. Sua chegada, entretanto, não ajudou
a equipe a escapar do rebaixamento para a segunda divisão japonesa.
No ano
seguinte, França permaneceu no Kashiwa Reysol e, por meio de seus gols (foi o
artilheiro do campeonato da segunda divisão, com 32 gols), ajudou sua equipe a
voltar à elite de futebol japonesa.
Após cinco anos no Japão, ele rescindiu
contrato com o clube em julho de 2010 e retornou para o Brasil. Atualmente, o
ex-jogador do ABC mora em São Paulo.
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